Carlos Daniel Santos Mestre em Medicina, Licenciado em Saúde Ambiental e em Radiologia e investigador na área de Saúde da Mulher
Cólicas no bebé: o que são e como tratar?
As cólicas no bebé são uma das principais preocupações dos pais, não só pela sua frequência, como pela sua apresentação, que pode ocorrer de várias formas, desde pequenos desconfortos abdominais até dores abdominais agudas de grande intensidade. Existem vários tipos de cólicas, com origem no sistema gastrointestinal ou noutros órgãos e sistemas, como o génito-urinário, pulmonar, cardíaco, neurológico ou até por causas desconhecidas, onde se inclui a cólica do lactente. Habitualmente, num bebé saudável, esta cólica apresenta-se com um choro e irritabilidade que dura cerca de 10 minutos e que pode terminar com uma dejeção normal.
O que são as cólicas no bebé?
São definidas como situações transitórias, benignas e recorrentes, que podem acontecer num lactente saudável e bem alimentado, por um período de 3 horas por dias, mais do que 3 dias por semana, por mais de 3 semanas. Estes são os principais sinais e sintomas:
- Agitação
- Expressão facial de dor ou desconforto
- Choro diferente e difícil de consolar (alto, agudo, estridente, com variação do tom)
- Barriga dura e distendida, mãos fechadas, pernas fletidas
- Emissão de gases ou outros sintomas digestivos (diarreia, regurgitação)
O que causa cólicas no recém-nascido?
São várias as causas de cólicas no recém-nascido e todas elas se apresentam com sintomas semelhantes (tal como referido acima). São elas:
- Intolerância ou hipersensibilidade às proteínas do leite de vaca (mais frequente aos dois meses)
- Imaturidade do sistema digestivo
- Imaturidade do sistema nervoso
- Intolerância à lactose
- Flora intestinal inadequada
- Alterações funcionais ou anatómicas do tubo digestivo
- Técnica de aleitamento desadequada (quando o bebé engole ar)
- Exposição ao tabaco
- Conflitos familiares e fatores psicossociais
Se o bebé tiver cólicas é perigoso?
Geralmente, 95% das cólicas do bebé não possuem causas orgânicas, ou seja, não existe uma doença que cause as cólicas. No entanto, poderão surgir sintomas sugestivos de cólica, nalgumas situações clínicas que apresentam algum potencial de gravidade:
- Apendicite
- Pancreatite
- Colecistite
- Infeção urinária
- Púrpura de Henoch-Schönlein
Quais os alimentos que provocam cólicas no bebé?
Alguns alimentos possuem um potencial alérgeno para o sistema gastrointestinal do bebé, sendo que cerca de metade das alergias em idade pediátrica se deve à ingestão do leite de vaca. A alergia às proteínas do leite de vaca surge após a ingestão de leite de fórmula ou papa láctea num lactente exclusivamente alimentado com leite materno. Este é um mecanismo imunológico, que na maioria das vezes, é mediado por pequenas moléculas chamadas de IgE, provocando como principal sintoma, o aparecimento de urticária. No entanto, quando a alergia às proteínas do leite de vaca não é mediada por IgE as manifestações clínicas são mais inespecíficas, tal como perda de peso, diarreia, perda de sangue nas fezes, irritabilidade e cólicas abdominais.
Em bebés amamentados exclusivamente pelo leite materno, a dieta da mãe parece ter algum impacto na severidade das cólicas. Assim, uma dieta hipoalergénica parece favorecer a diminuição das cólicas no bebé. Mas, muito importante, o aleitamento materno é um fator protetor para evitar as cólicas no bebé!
Estes são alguns dois alimentos hipoalergénicos, que podem contribuir para uma diminuição das cólicas no bebé:
- Leite de vaca e produtos lácteos
- Soja e trigo
- Ovos
- Amendoins e nozes
- Frutos do mar
- Couve-flor, repolho, brócolos, cebola
- Álcool, Café
- Chocolate
- Bebidas gaseificadas
- Comida picante ou muito condimentada
Quando começam as cólicas no bebé?
Geralmente, as cólicas surgem em 30 a 40% dos recém-nascidos, entre os 10 dias e os 4/5 meses de idade, com maior prevalência nas primeiras duas semanas de vida. No entanto, podem também ocorrer até aos 6 meses, e em casos muito raros até aos 9 meses. No dia-a-dia, a tendência é que as cólicas ocorram mais ao final do dia e início da noite, sendo nunca demais referir que é fácil confundir as cólicas com outras situações de choro inconsolável, tais como infeções urinárias e respiratórias, fraturas ou outros problemas gastrointestinais, pelo que se deve ter alguma cautela ao atribuir a causa do choro às cólicas, sem ter a certeza que o bebe está saudável.
Como aliviar as cólicas no bebé?
As cólicas no bebé podem ser uma causa de grande ansiedade para as mães e pais. No entanto, uma das regras mais importantes é manter a calma e tranquilidade, falando com o bebé num tom de voz doce e suave e nunca gritar ou sacudir o bebé, pois isso poderá provocar lesões graves. Existem algumas técnicas, preventivas e durante a cólica, que ajudam a acalmar o bebé e a aliviar os sintomas:
- Estimular o arroto após cada amamentação
- Tentar amamentar numa posição o mais ereta possível
- Apoiar o bebé sentado numa superfície dura, durante 5 minutos duas vezes por dia
- Usar biberão anticólica
- Leite adaptado (fórmula hidrolisada)
- Abandonar o consumo de tabaco
- Embalar o bebé no colo, com som melodioso do progenitor
- Oferecer a chucha
- Aconchegar o bebé dentro de um lençol
- Usar estímulos visuais ou auditivos (rocas, brinquedos, música, máquina de lavar)
- Deitar o bebé de barriga para baixo, sobre as pernas do progenitor sentado e massajar as costas suavemente
- Massajar a barriga suavemente
- Caminhar com o bebé
- Dar um passeio de carrinho na rua
- Viajar de carro
Quais os medicamentos que posso usar nas cólicas do bebé?
A medicação para as cólicas deve ser reservada para casos de difícil resolução ou que causem transtornos no ambiente familiar.
Poderão ser utilizadas:
- Polietilenoglicol com ou sem eletrólitos (mais bem tolerado, pois apresenta um sabor melhor)
- Enzimas, como a láctase (algum benefício entre os 1-2 meses)
- Probióticos (pode ser usado desde o nascimento)
- Simeticone (sem grande evidência científica)
- Sais de magnésio
- Plantas medicinais (funcho, camomila, cidreira), podem ter alguns efeitos benéficos, mas não devem ser utilizados em idade precoce
Recomendamos, sempre, e em caso de dúvida ou de persistência dos sintomas, a consulta do médico de família ou do pediatra.
- Cuidados ao Bebé
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